Quer Cézanne quer o cubismo, rejeitam o que o impressionismo fez. Dando mais solidez à imagem através da cor. Aqui o objecto não está coberto de reflexos, mas sim iluminado no seu interior: a luz emana dele, o que resulta numa impressão de solidez e de materialidade.
Cézanne
A função da pintura é construir uma realidade própria, conduzida por leis independentes do naturalismo ou das emoções. A sua pincelada torna-se extremamente controlada na tentativa de ultrapassar o passageiro e a instabilidade do real (daí a colocarem pequenas pinceladas). A sua imagem era constituída maioritariamente por pincelada disposta em blocos: cilíndricos, esféricos e cónicos. Já não é a perspectiva que cria o espaço, mas o volume (através dos blocos) da cor.
- A montanha de Santa Vitória, retratada de diferentes ângulos, cuja intensidade dos tons e das pinceladas se assemelham a lapidações de um sólido geométrico, capazes de construir formas e volumes;
- A realidade deixa de ser um objecto, visto abolir a comunicação;
- A pintura é uma acção que capta um ritmo (capta as coisas virgens antes de se formarem. Uma coisa terminada, deixa de comunicar. Uma coisa em vias de formação, suscita algo mais na evolução do seu pintor);
- A realidade é o par pintor/mundo: O pintor não vê os objectos, mas é sensível a um ritmo sob a forma do qual vive o encontro com as coisas;
- A sua pintura não quer captar a realidade, mas sim os ritmos.
O universo de criação de Cézanne é inovador e extremamente crucial para a evolução da pintura. Através de algo que o captasse ele via algo que podia recriar do seu ponto de vista.
- A sensação é aquilo que se transmite de forma directa, irracional; A sensação (nervo) deriva da abstracção (intelectual). A abstracção não é apenas o não-figurativo: é a acção transfiguradora e reveladora do ritmo sob a forma que se incarna. As formas são adaptadas pela acção purificadora do ritmo.
- Não é no jogo de luz (impressão) que está a sensação, mas na cor que está no corpo. A cor e a sensação estão no corpo e não no ar: a pintura torna-se numa fisiologia;
- “Com o impressionismo começa tudo a pulsar e a estremecer, a perder os contornos exactos. Com Cézanne a indiferença ao desenho correcto dá origem a uma súbita invasão de forças de espíritos animais caóticos que a pintura tinha dominado soberanamente”;
Cubismo
O cubismo procura o permanente, a captura do objecto. O importante é como se cria a forma em função do objecto.
Existem duas fases no cubismo:
Fase analítica
- A luz incorpora-se no objecto mas não o define;
- Durante esta fase, Picasso e Braque operam a fusão entre espaço e objecto: tornando a fragmentação extensiva à totalidade da composição trocando volumes pelos planos; capta-se o objecto a partir de todos os seus ângulos, visto nas suas variadas formas, ficando aplanado. Enquanto para Cézanne, o espectáculo da natureza é ainda o motivo, para Picasso a possibilidade de distorção na pintura anuncia uma reflexão sobre a possibilidade das aparências;
- A acumulação dos planos e a sua redução às figuras geométricas simples, indicam futuras direcções principais do cubismo: a substituição das aparências de uma imagem sintética da realidade, a negação do vazio;
- Insatisfeitos introduzem letras, tinta industrial, etc. Estas inovações revelam aos pintores a capacidade que o espaço cubista tem de integrar elementos estranhos;
- Encorajado por esta descoberta, Picasso introduz colagens, criando assim outra fase.
Fase sintética
- A colagem é o inverso da série: a inclusão de várias representações numa única imagem.
- Ela não procura captar o instantâneo, mas vários. A maior diferença é que estes instantes múltiplos são levados para o interior de uma única imagem.
- Não se trata mais de enganar o olho, mas da inserção directa da realidade dentro do quadro, e o acto de pintar é reduzido a um simples “cortar e colar”;
Enquanto o cubismo analítico tinha sacrificado a unidade do objecto ao alojá-lo num espaço que revelava a sua essência, o cubismo sintético descobre u m meio de o restaurar sem renunciar às inovações espaciais.
Esta nova representação, que permite uma liberdade figurativa nunca até então conseguida, é ainda mais realçada pelo regresso das cores vivas. Desaparece o espaço da perspectiva, para dar lugar a um espaço nocional.