PALEOLÍTICO SUPERIOR – IMAGEM PRIMITIVA?

O interesse pela arte pré-histórica (final do séc. XIX) nasceu nas feiras de ciências, amostras. Quando foram mostradas imagens da gruta de Altamira ninguém acreditou nelas como sendo algo real. Duvidaram da sua antiguidade e pensaram ser algo apenas mal pintado por alguém. (Nesta época caminhávamos para um humanismo tal de imagens que, para compreender este conceito de primitivo, tiveram de voltar à componente mais básica da imagem).

A arte paleolítica inclui:

  • Arte parietal – Que se localiza nas grutas, em profundidade. Incluí representações de diversos tipos: baixos-relevos, gravuras, pinturas. A sua distribuição pelas paredes é extremamente variada: dos locais mais ou menos expostos à luz natural, até às zonas mais interiores de galerias que obrigavam à utilização de luz artificial (lamparinas de pedra em que se queimava gordura animal; ou archotes de madeira).
  • Arte móvel – Em suporte orgânico ou mineral, móvel. Incluem-se objectos de adorno pessoal, e peças gravadas, pintadas ou esculpidas. A sua idade é determinada através de processos de datação radiométrica.

Grutas mais exploradas:

  • Altamira (1879);
  • Santuola (1880);
  • Cartailhac (1902);
  • Lascaux (1940);
  • Chauvet (1994);
  • Cussac (2000);
  • Vilhenneur en Charante (2005);

Teses (reveladoras de correntes e pensamento da sua evolução) Todas elas têm o mérito de querer compreender a mentalidade pré-histórica, de descodificar a sua mensagem, de penetrar na sua vida espiritual, isoladas nenhuma é satisfatória para dar conta da riqueza do pensamento pré-histórico, não podendo nenhuma ser totalmente rejeitada:

  • Arte pela arte – A existência de uma sociedade humana liberta dos constrangimentos de necessidades materiais faz com que consigam produzir o simbólico. (Max Raphael); O nascimento da arte está ligado à existência prévia de utensílios. A criação destes foi um protesto contra o que existia. O homem encontra o sensível, quando através do seu trabalho cria, além do que necessita, uma obra de arte. (Georges Bataille); A arte é destruição e não construção (Rémi Labrusse). Se não existem necessidades materiais, somos capazes de construir o simbólico;
  • Totemismo – Cada clã ou tribo tem um animal totémico, a quem presta culto. Uma das críticas a esta tese é o facto de as imagens com animais feridos e flechas não serem compatíveis com a proibição ligada aos animais totémicos. Esta forma de pensar, acabou por evoluir de forma etnológica, acabando aos poucos com a ligação totémica.
  • Caça Mágica – Pressupunha-se uma relação de identidade entre a imagem e o seu sujeito (ex. o bisonte desenhado era simbolicamente morto antes de o ser realmente) (Abade Breuil). Apesar disso, as imagens de animais feridos ou trespassados de flechas não são abundantes, daí a insustentabilidade da tese;
  • Estruturalismo – Há uma estruturação da gruta no seu todo, com as figuras da entrada e as que estão no fundo, uma organização de painéis com figuras centrais e periféricas (Leroi-Gourhan). Dualidade macho/fêmea representada pelo par simbólico bisonte ou auroque/cavalo, oposta ou complementar. É de tal modo importante que se tornou única;
  • Xamanismo – Há a sobreposição de figuras e ausência de composição, isto é a evocação de imagens alucinatórias vividas durante o transe. A gruta é um santuário no qual o xamã entra em transe para restaurar a harmonia entre o homem e a natureza. As imagens criam o ambiente fantástico. Esta invenção do xamã resulta da magia e não da antropologia. Os desenhos não parecem ser fruto de um desenho automático feito por um transe.
  • Proto-escrita – A corrente ambientalista propôs uma leitura social e utilitária da arte parietal que tinha por objectivo favorecer a comunicação e a troca de informação entre grupos. (Emmanuel Anati e Jean-Louis Schefer).

As imagens funcionam como calendário que inscrevem uma periodicidade devido à presença simultânea de água e animais.

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