Poema “Mar Português”

O poema “Mar português” sintetiza a demonstração dos perigos e dos feitos gloriosos que o povo português viveu no mar.

Desta forma, a primeira estrofe apresenta-se como a História de toda uma nação e os sacrifícios levados a cabo por todos na conquista do Desconhecido, através da exploração do mar. O carácter lírico é reforçado através da utilização da apóstrofe “Oh” dirigida ao mar, enfatizando o sabor salgado – um símbolo de todas as lágrimas e sofrimentos vividas por todo o Povo português que lamenta os acontecimentos; a metáfora associada à hipérbole “..quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!” (v) acentua o sofrimento causado pelo mar em toda a nação; o uso de  frases exclamativas e o uso da expressão anafórica “Quando”, que  confere um tom dramático em todas as vitimas que o mar fazia em terra – as mães, as noivas e os filhos. (v) – o que traduz o sofrimento e aflição especialmente sentidas por entre o meio familiar.

Já a segunda estrofe é de carácter reflexivo, em que o sujeito poético medita sobre os sacrifícios cometidos por todos aqueles que experimentaram a dor – que se torna fundamental sentir para alcançar a glória do absoluto – “Quem quer passar além do Bojador / Tem que passar além da dor.” Assim, o sujeito poético conclui que “tudo vale a pena / Se a alma não é pequena” para quem, na sua essência, detenha um espírito de lutador e sonhador – como são os Portugueses.

  • O sujeito poético introduz, neste poema, o Mar como símbolo do Desconhecido e sofrimento, mas ao mesmo tempo da glória e dos feitos Portugueses. Assim, o mar “salgado” torna-se Português, quer pela dor e aflição causadas nos demais participantes na exploração dos perigos marítimos, quer pelo empreendimento erguido pelo povo português – os Descobrimentos, um objectivo máximo da História de Portugal – que se torna a base em torno da importância do mar como sendo de origem Portuguesa.
  • Na segunda estrofe, está patente o elogio do sonho e do desejo de alcançar o Desconhecido. Desta forma, o sujeito poético coloca em evidência três respostas à sua pergunta – “valeu a pena?”. Na primeira, o poeta reflecte sobre as acções desenroladas na primeira estrofe e as suas consequências, concluído que “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, o que sugere a grandeza da alma humana, a única capaz de desejar o impossível e o desconhecido por meio da alma – do sonho. Na segunda resposta, “Quem quer passar além do Bojador / tem que passar além da dor”, é referida uma necessidade – de que apenas pela experiência da dor, do medo e do desconhecido é possível alcançar a glória desejada. No final, “Deus ao mar o perigo e o abismo deu / mas nele é que espelhou o céu” – o mar surge como causa do sofrimento e de dor, na mesma medida em que é o espelho da grandeza e perfeição, já que é nele que se reflecte – simbolicamente representado pelo alcançar do sonho, da glória. Desta forma, só quem vence os perigos do mar e ultrapassa a dor é capaz de alcançar a glória absoluta.

A segunda estrofe, no entanto, o eu lírico justifica o empreendimento e o esforço supremo: “Quem quere (quer) passar além do Bojador/Tem que passar além da dor”. Para os portugueses, a glória era simbolizada pela superação dos perigos do mar, constante duelo com a morte. O Bojador é um cabo localizado na costa oeste da África, na altura das ilhas Canárias (pouco ao norte do Trópico de Câncer). No início das grandes Navegações, era o limite conhecido do território africano. Portanto, “passar além do Bojador” significa entrar no desconhecido, enfrentar “perigos e abismos”.A segunda parte inicia-se com dois versos de teor axiomático, possibilitando um balanço que para o sujeito poético é positivo, apesar de todos os sacrifícios. Basta para tal que o objectivo que esteja na base da empresa seja nobre.

 

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