As personagens

As personagens

A relação com a intriga deve ser dupla:

  1. A personagem influencia a intriga, é protagonista das peripécias;
  2. A intriga influencia a evolução do carácter da personagem (que sofre alterações causados pelas peripécias).

Movimento vs. Mudança

Movimento da personagem: alteração superficial e muitas vezes temporária que não altera o carácter da personagem.

  • Permite que a acção se produza e situa-se antes desta.
  • “Cansada de estar sozinha, Joana decide ir de férias para Cuba em busca de um novo amor”

Mudança da personagem: alteração profunda (física, moral, social, psicológica ou misturando várias)

  • É causada pelas peripécias da narrativa
  • Surge no fim da história (como resultante)
  • Ao longo da narrativa, vários elementos vão preparando essa mudança final (duplo objectivo: fazê-la pressentir pelo leitor, torna-la credível.
  • “ A paixão de Pablo tornara Joana uma mulher diferente, capaz de sonhar outra vez”

Personagem Tipo vs. Personagem Estereotipada

Personagem tipo: apresenta traços genéricos de carácter, seleccionados entre a complexidade humana

  • Remete para a realidade, cria no leitor a impressão de que a personagem se parece com A, B ou C: pessoas que conhece)

Personagem estereotipada: personagem que reaparece independentemente do autor, lugar, momento ou meio

  • O leitor sente que já viu o mesmo noutro lado; a personagem não evolui, mantém-se igual ao seu estereótipo.
  • “O detective desconfiado, de chapéu e gabardine”

Quando é que devemos introduzir a personagem principal no conto?

O mais cedo possível

Como introduzir a personagem principal no conto?

  • Seleccionar um/dois traços mais marcantes da personagem, que a definam, a caracterizam.
  • Que permitam perceber a evolução e a mudança da personagem ao longo da narrativa.

A escolha das personagens deve relacionar-se directamente com a intriga (ou seja, as peripécias da narrativa)

Nada é definido por acaso quer no que diz respeito aos traços físicos como aos psicológicos

Mesmo o nome pode (e deve sempre que possível) relacionar-se com a narrativa.

As técnicas do ponto de vista

“A escolha de um bom ponto de vista é um elemento decisivo para o sucesso de uma história.” P109

Entender o conceito de ponto de vista implica perceber o conceito de horizonte.

Horizonte: linha que marca o limite da nossa percepção do ponto de vista físico (é circular e corresponde a cerca de 30Km, na inexistência de obstáculos)

O escritor tem de ser capaz de reconstruir os horizontes, os “espaços curvos” de que cada personagem é o centro e de mostrar como estes mundos se encontram e interferem uns com os outros, isto é, o escritor tem de saber recriar e escrever segundo diferentes pontos de vista.

O mesmo acontecimento perspectivado por duas personagens diferentes corresponderá sempre a duas narrativas díspares.

Para trabalhar o ponto de vista de forma eficaz o escritor tem de resolver um triplo problema:

Focagem: quem vê o quê?

Narração: Quem fala na narrativa?

Síntese: Que ponto de vista é fiável?

Formas de actuar do Narrador

A função essencial do narrador é contar os acontecimentos da história. Pode surgir e actuar de diferentes formas:

  1. Dirige-se directamente ao leitor: na 2ª (Vós) ou na 3ª Pessoa (O Leitor);
  2. Organiza num segundo grau a narrativa, remetendo para algo já referenciado (“como já se disse mais acima”) ou para algo que ainda vai acontecer (“como se verá mais adiante”);
  3. Dá explicações suplementares, necessárias para a compreensão da história
  4. Afirma-se como testemunha “real” dos acontecimentos que reporta
  5. Faz juízos de valor morais ou ideológicos

Narração

Quem fala na narrativa?

Pode situar-se em três momentos:

Passado

Presente

Futuro

(pode ser mista).

Dois grandes tipos (diferentes formas de narrar):

Narrador presente: narra, assumindo sem ambiguidades o papel de narrador.

Narrador ausente ou transparente: mostra /descreve, criando a impressão que a história se conta sozinho.

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