Poema “Ode Triunfal”

No poema “Ode Triunfal”, o “eu” lírico vai preconizar um elogio em tom eufórico à civilização moderna industrial, em particular à vida mecânica e industrial onde tece elogios à máquina, ao seu funcionamento e às sensações que decorrem do amor à vida moderna com que o sujeito poético se identifica.

Assim, apresenta-se como um exaltado da civilização moderna industrial, espantado pela novidade, intenso de emoção, num estado febril (“tenho febre”), “em fúria fora e dentro de mim”, com “os lábios secos” e a “cabeça a arder”. Ligado sempre ao actual, o “eu” afirma que apenas lhe interessa o presente, no entanto não esquece o passado nem o futuro, uma vez que estes se encontram invariavelmente ligados e ganham significado no momento actual (“todo o passado dentro do presente; “todo o futuro já dentro de nós”.
Por outro lado, o poema traduz o estado de espírito do “eu”face ao mundo, marcado pelo desejo de sentir tudo de todas as maneiras, numa histeria de sensações, que passa pela identificação com tudo: “Ah!, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina!”; “Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto…”.

A relação entre o sujeito poético e a vida industrial tem também um lado mais íntimo e pessoal, que chega a tornar-se algo carnal e voluptuosa, como se existisse uma atracção erótica pelas máquinas, comprovados pela utilização de termos dos campos lexicais de “corpo” e “indústria”: “lábios”, “corpo”, “costas”, “tronco”; “fábrica”, “rodas”, “engrenagens”, “máquinas”. É ainda utilizado todo um vocabulário espontâneo e sedutor, que peca pelo senso comum: “… penetrar-me fisicamente de tudo isto”; “Amo-vos carnivoramente / Pervertidamente…”; “Ó fábricas, ó laboratórios, … Possuo-vos como uma mulher bela”.Todos estes sentimentos e emoções descrevem a forma maravilhada e entusiástica como o “eu” “observa” o esplendor do progresso e da modernidade, que ama desesperada e pervertidamente.

Esta euforia é caracterizada pela irregularidade no que toca aos versos e estrofes, em que existem estrofes de quatro versos, de dez, de onze e dezasseis e versos de cinco a vinte e uma sílabas e outros em que a contagem se torna difícil. Ao longo do poema surgem ainda exclamações que enfatizam a emoção vivida pelo sujeito poética, bem como o uso de repetições e enumerações. Desta forma, o sujeito poético faz uso recorrente de exclamações, interjeições e onomatopeias: “r-r-r-r-r- eterno!; “Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios”; “Hup-lá, hup-lá, hup lá hô…; de apóstrofes “Ó fazendas nas montras”, Ó manequins!, “Ó últimos figurinos! Ó cais, ó portos, ó comboios!….; de enumerações “Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!; “guerras, tratados, invasões, Ruído, injustiças, violências” e de apóstrofes; de anáforas “Olá grandes armazéns, … Olá anúncios eléctricos… Olá tudo!; “Eh-lá-hô fachadas, Eh-lá-hô elevadores, Eh-lá-hô recomposições ministeriais!”; de comparações “olhando os motores como a uma natureza tropical”; “Possuo-vos como a uma mulher bela”; “um orçamento é tão natural como uma árvore e um parlamento tão belo como uma borboleta.” Estes recursos estilísticos dão um tom excessivo às palavras do “eu” na expressão das suas sensações.

Leave a comment