O Mostrengo, surge neste poema como uma personificação do medo e do receio sentidos pelos marinheiros na época histórica da exploração marítima. . Este ser “imundo e grosso”, que vive nas “cavernas” que ninguém conhece, de “tectos negros do fim do mundo” representam o mistério e o terror que, num plano geral, todos os homens sentem enquanto navegam pelo Desconhecido – uma barreira que até os mais corajosos encontram no percurso da descoberta do novo mundo.
O “homem do leme” apresenta-se inicialmente como um herói “sofrido”, no sentido em que sente o perigo e o consequente medo na realidade que vive, em que é intimado pelo tom assustador do Mostrengo. No entanto é capaz de ultrapassar os receios quando se consciencializa da sua missão máxima – a representação de um povo na conquista do Desconhecido. Desta forma, o herói ganha força, uma vez que foi designado por um Rei numa missão onde “manda a vontade” – a confiança no Rei e na sua figura predestinada depositada em toda uma nação que anseia o mar e por isso vai o vai possuir (Sou um povo que quer o mar que é teu). Este é o tom feroz, convicto e determinado no qual o “homem do leme” sustenta as suas bases de defesa para contra o Mostrengo.
O número três surge no poema através de diversas formas. É possível ver a simbologia do número na estrutura interna do poema, composta por três estrofes; o Mostrengo dirige-se ao “homem do leme” por três vezes – “voou três vezes”, “três vezes rodou”, “três vezes do leme as mãos ergueu”; o “homem do leme” responde três vezes “três vezes do leme asas mãos ergueu, / Três vezes ao leme as repreendeu / E disse no fim de tremer três vezes”.
O tom narrativo do poema surge desde logo pela introdução deum narrador que relata o momento ao vivo – acentuado através da utilização do pretérito perfeito do indicativo e expõe um confronto entre duas forças – a nação Portuguesa, representada pelo “homem do leme” e o temível Desconhecido – representado pelo Mostrengo. Neste espaço, é apresentado um herói que enfrenta, com grandeza e coragem, todos os seus medos, em nome de um colectivo maior, através de uma missão superior – a de possuir o Mar. Toda esta batalha torna-se é contada em tom épico, em que são enaltecidos os feitos do povo Português.
O Mostrengo simboliza os medos dos navegadores que enfrentam o desconhecido. O homem do leme é a figura do herói mítico, símbolo de um povo e que, portanto, passa de herói individual a directivo com uma missão a cumprir.
O Mostrengo, presente na Mensagem de Fernando Pessoa, corresponde à personificação do medo e do receio. O Mostrengo surge como símbolo dos perigos e das dificuldades que se apresentam ao ser humano que quer conhecer novos mundos, que mantém toda a simbologia do fantástico que amedronta mesmo os mais corajosos. Este poema de Fernando Pessoa simboliza as dificuldades sentidas pelos portugueses na conquista do mar, contrapondo ao medo a coragem como a forma de ultrapassar os limites. Ao mesmo tempo, mostra a atitude de coragem do marinheiro português perante aquele ser imundo e grosso, vencendo os seus medos.
A utilização do presente do indicativo no verso inicial , em oposição ao pretérito perfeito nas falas do Mostrengo confere ás falas do “homem do leme” uma maior força e vivacidade, que tornam a narrativa mais real.